quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

É ISSO AÍ


MATÉRIA NA FOLHA DE SÃO PAULO


27/12/2012-03h00

Teatros de São Paulo adotam a figura do curador


GUSTAVO FIORATTI
DE SÃO PAULO

Curadores não são figuras exclusivas das artes plásticas. Ultimamente, também andam dando as cartas no circuito teatral de São Paulo.
Museus investem nas artes dramáticas
A tendência vem ganhando importância, com nomes de peso assumindo a função.
Em 2013, a programação do teatro Geo, em Pinheiros (zona oeste), ficará sob responsabilidade de um dos mais profícuos encenadores de musicais do país, Cláudio Botelho, que também fará residência naquele espaço.

Lenise Pinheiro/Folhapress
O crítico Kil Abreu (à esq.) e o dramaturgo Ruy Filho, curadores de salas de espetáculos em SP

O crítico Kil Abreu (à esq.) e o dramaturgo Ruy Filho, curadores de salas de espetáculos em SP
Isso significa que todas as peças do diretor passam a estrear no mesmo endereço e que outras montagens e shows escolhidos por ele preencherão os "horários alternativos" da sala.
No mesmo bairro, o diretor Ruy Filho se dedicará à direção de um novo teatro, que deverá ser aberto no meio do ano dentro do Centro Cultural Rio Verde.
Ruy diz que sua seleção não deve se pautar somente pela criação de uma identidade de programação. Ele pretende, no cargo, desenvolver um olhar crítico, com recortes "provocativos" e possíveis diálogos entre os trabalhos selecionados.
"A questão mais complexa é estabelecer curadorias em que, quase sempre, o teatro dá prejuízo", afirma. "Mas a figura do curador é importante porque ele pode perceber no artista uma capacidade. Às vezes, o espetáculo nem é tão bom, mas o artista é."
Curadorias também podem criar fidelidade de público, como no Centro Cultural São Paulo, cuja programação de teatro passa a ser assinada, em 2013, pelo crítico Kil Abreu. Ele, no entanto, reclama da falta de recursos para concretizar seu projeto. Diz que o orçamento previsto pela prefeitura para o ano que vem não chega a R$ 400 mil.

EXPANSÃO

Ainda no decorrer de 2013, o ator Dan Stulbach, que há sete anos responde pela curadoria do teatro Eva Herz (situado dentro da Livraria Cultura na avenida Paulista), expandirá essa experiência para cinco teatros da loja em outros Estados.
Ele se responsabilizará pela programação de salas em Salvador, Recife, Brasília e Fortaleza, além de cuidar do novo espaço que a Livraria Cultura abrirá no Rio de Janeiro, em fevereiro.
Ele conta que, no Eva Herz, em vez de cobrar aluguel das montagens, costuma ficar com cerca de 25% da bilheteria. "Vemos os espetáculos como parceiros. Estamos juntos no lucro e no prejuízo".
Para Stulbach, o importante é, por meio da curadoria, "criar uma identidade e estabelecer um diálogo entre o teatro e a cidade".
O Eva Herz recebe cerca de 20 projetos por mês, diz. Além de analisar o material de quem se candidata à pauta, Stulbach garimpa possíveis reestreias entre as temporadas na cidade.
"Procuro juntar espetáculos que dialoguem entre si", explica o curador, tomando como exemplo "Córtex", de Otávio Martins, e "O Andante", de Elias Andreato, que estiveram em cartaz no fim do ano e que ele qualifica como "dois monólogos feitos por atores fortes".
O Sesc é uma referência para todos esses profissionais. Segundo Sidnei Martins, chefe da equipe que seleciona espetáculos para a rede, a pesquisa da instituição para levantar sua programação é feita em território nacional e em festivais estrangeiros.
Para ele, uma boa curadoria deve integrar debates e atividades paralelas. "Isso é uma forma de discutir como a obra pode chegar ao público", afirma.